sábado, 4 de setembro de 2010

Acesso físico X Acesso Simbólico

A questão do acesso aos bens culturais é algo bem maior que o universo professor-aluno, mas muitas vezes se reflete nesta relação e no trabalho resultante dessa parceria. Para Brechth é preciso que a arte seja levada ao grande publico, que o pequeno círculo de “iniciados” que têm acesso a ela e a compreendem se amplie até que ela seja uma arte de todos, uma arte do povo e para que isso ocorra cabe a nós professores não apenas levar nossos alunos ao teatro, ou a galeria de artes, mas é preciso que construamos com eles a compreensão da arte em toda sua amplitude (estética, histórica e representacional).

É uma opinião antiga e fundamental que uma obra de arte deve influenciar todas as pessoas, independentemente da idade, status ou educação (...) todas as pessoas podem entender e sentir prazer com uma obra de arte porque todas têm algo de artístico dentro de si (...) existem muitos artistas dispostos a não fazer arte apenas para um pequeno círculo de iniciados, que querem criar para o povo.
Isso soa democrático, mas em minha opinião não é democrático. Democrático é transformar o pequeno círculo de iniciados em um grande círculo de iniciados. Pois a arte necessita de conhecimento. A observação da arte só poderá levar a um prazer verdadeiro se houver uma arte da observação. Assim como é verdade que em todo homem existe um artista, que o homem é o mais artista dentre todos os animais, também é certo que essa inclinação pode ser desenvolvida ou perecer. Está contido na arte um saber que é saber conquistado através do trabalho (Brecht apud Koudela, 2001).

Brecht propõe a questão do acesso discutida por Koudela - o acesso físico e o acesso simbólico - mas também insere outro importante ponto a ser discutido o treino do olhar, o aprendizado da apreciação artística, aprendizado esse que deve ser construído ou poderá perecer.

         Levar os alunos a uma galeria, a um museu ou a uma peça, garante o acesso físico destes a esses bens culturais, é um passo importante o aluno conhecer e estar no Teatro Municipal, no teatro de arena, no TUSP, no TUCA , conhecer a OCA, o MAM, o Masp, a Pinacoteca pois estes são pontos importantes da cidade, conhecer as diferenças entre estes lugares, as diferenças entre as obras expostas, etc. Mas apenas estar fisicamente nestes lugares não faz com que automaticamente o aluno compreenda e aprecie o que vê, não dá ao aluno a explicação do porque aquilo é considerado uma obra de arte e não transforma este aluno em um apreciador de obra de arte.

         Muitos alunos, assim como o grande público adulto carregam uma imagem estereotipada da arte, tanto no sentido de compreenderem arte apenas no sentido mais restrito incluindo apenas algumas escolas e tendências, como por acharem que aquilo não é possível de ser compreendido e discutido, encarando a arte como algo impossível de fazer sentido e de ser assimilado.

 O teatro por diversas vezes é compreendido como necessariamente a presença de um palco italiano e de representações que se assemelham as novelas e filmes, causando surpresa e inquietação quando ao entrar no teatro não encontram, por exemplo, um palco, ou quando os atores discutem a encenação (metateatro). O mesmo se dá com as artes plásticas e talvez até de maneira mais forte, pois uma vantagem do teatro é a o transcorrer da peça, algo acontece perante os olhos do espectador, muitas vezes perante uma obra de arte contemporânea surge a pergunta, “O que é isso?”, “Que amontoado de coisas é essa?”, é comum         que uma instalação ou uma pintura abstrata causem estranhamento e dúvidas.

Mas como quebrar essa resistência? Como educar esse olhar para a arte da observação? A preparação prévia a uma saída pedagógica é parte fundamental, o ideal é que esta visita a um museu ou ao teatro esteja inserida dentro do projeto que vem sendo estudado, para que se amarre com os demais conteúdos e não seja uma visita como um fim em si mesmo, mas ainda que seja este o caso é possível aproveitá-la, conversando com os alunos antes e depois.

As rodas de conversas podem ser usadas para levantar os conhecimentos prévios, ou seja, as vivencias anteriores com o tipo de situação que serão encontradas, são riquíssimas para que os alunos possam se escutar, pensar sobre as experiências dos amigos e suas e para falarem das expectativas do que vão encontrar, imaginar o que é estar no museu ou num teatro, poder ouvir experiências diversas, quebrando assim a resistência e despertando a curiosidade e o interesse dos alunos.

Outra atividade interessante é levar informações previas para os alunos, como um resumo da peça, fazer a leitura do livro que inspirou a obra, levar encartes com fotos, promover leituras sobre o diretor ou o grupo, e o mesmo com se dá com as artes visuais, será muito mais rica a visita se os alunos souberem que exposição estão indo ver, quem é o artista, ou artistas, a que movimento pertencem, conhecer algumas de suas obras e suas intenções.

Toda preparação prévia além de familiarizar os alunos, os estimula a fazer reflexões perante a obra que não fariam sozinhos, ou seja, com essas atividades o professor ajuda o aluno a sair do desenvolvimento real, passando para o nível de desenvolvimento potencial, e se esse trabalho for bem feito, esse aluno com o passar do tempo conseguirá fazer estes questionamentos e observações sozinho, ou seja, ao ir em uma exposição terá desenvolvido e se apropriado de recursos para compreender a obra: ler a legenda, lembrar se do que sabe do autor, relacionar com outras obras que já conhece, tornando se assim um apreciador, ou como falou Brecht terá adquirido a arte da observação, alcançando assim o acesso simbólico ao bens culturais dos quais todos têm direito, mas em sua grande maioria não o usufruem. 




Obra de Cildo Meireles - inserção em Circuítos Ideológicos




Cildo Meireles - BABEL







Somente o acesso simbólico, permite ao olhar compreender porque estas são obras de arte e o qual seu valor estético, artístico e político. 

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